Na véspera do lançamento do livro, Gonçalo Amaral, o ex-inspector da Polícia Judiciária inicialmente responsável pela investigação, acredita que a menina inglesa morreu no quarto e que os pais não estão isentos de culpa.
“Madeleine McCann morreu no apartamento 5ª do Ocean Club, na Vila da Luz, a 3 de Maio de 2007”, escreve Gonçalo Amaral, segundo os resultados obtidos pela equipa de investigação do caso até Outubro de 2007.
“Ocorreu uma simulação de rapto” e os pais, Kate e Gerry, “são suspeitos de envolvimento na ocultação do cadáver da sua filha”, acrescenta o ex-inspector da PJ.
O autor salienta que “a morte poderá ter sobrevindo em resultado de um trágico acidente” e que foram detectados “indícios de negligência na guarda e segurança dos filhos”.
Um facto é que “há um cadáver não localizado, constatação validada pelos cães ingleses (…) e corroborado pelos resultados laboratoriais preliminares”.
Nas suas conclusões, Gonçalo Amaral salienta ainda que “a tese de rapto é defendida desde a primeira hora pelos pais de Maddie” e que no seio do grupo de amigos que passava férias no Ocean Club apenas Kate e Gerry disseram que a janela do quarto da menina estava aberta.
“O conjunto de depoimentos e testemunhos evidenciam um elevado número de imprecisões, incongruências e contradições (..), em particular, o depoimento-chave para a tese do rapto, o de Jane Tanner (…) tornando-se ambíguo e desqualificando-se”. Foi esta cidadã inglesa que disse ter visto um homem com uma menina ao colo na noite de 3 de Maio de 2007.
"Contribuir para a descoberta da verdade material"
“Este livro surge da necessidade que senti de repor o meu bom nome que foi enxovalhado na praça pública sem que a instituição a que pertencia há 26 anos, a Polícia Judiciária, tenha permitido que me defendesse ou que o fizesse institucionalmente. (…) Mais tarde fui afastado da investigação”, começa por explicar Gonçalo Amaral.
“Este livro tem ainda um propósito maior. O de contribuir para a descoberta da verdade material e a realização da justiça”, refere, salientando que o conteúdo “em nenhuma circunstância põe em causa o trabalho” dos colegas da PJ “nem compromete a investigação em curso”.
Na nota inicial, Gonçalo Amaral indica que “o leitor encontrará dados que desconhece, interpretações dos factos e, naturalmente, interrogações pertinentes”, frisando que uma investigação criminal “não se deve preocupar com o politicamente correcto”.
“Casal tratado com pinças”
A capa do livro, publicado pela editora Guerra e Paz, assemelha-se a uma capa processual, com a inscrição “Confidencial” a vermelho e a simulação de uma foto tipo-passe de Maddie presa com um clip.
As primeiras linhas não se situam a 3 de Maio de 2007, quando teve início o “caso Maddie”, mas em Fevereiro de 2008, data da publicação de uma entrevista na qual o então director nacional da PJ considera que houve precipitação na constituição do casal inglês como arguido. O autor confessa que teve o “pressentimento” de que a declaração pretendia “preparar a opinião pública para o inevitável, ou seja, o fim da investigação e o arquivamento do inquérito”.
Gonçalo Amaral diz que houve “campanhas de desinformação que visaram descredibilizar a investigação criminal”. “Para mim a investigação estava morta desde 2 de Outubro de 2007”, quando foi afastado da PJ e se fizeram “diligências para cumprir calendário, um pouco para inglês ver.”
O autor questiona a relação entre o casal McCann e a polícia inglesa, após a constituição como arguidos. “Causou-nos sempre estranheza a forma como o casal era tratado (…) e a informação policial a que eventualmente acederam”.
“O erro foi termos tratado o casal ‘com pinças’”, lê-se, pelo facto de Kate e Gerry só terem sido constituídos arguidos quatro meses após o início da investigação.
Logo na manhã de 4 de Maio, antes de receberem informação pedida à polícia inglesa sobre os McCann, os investigadores receberam a visita do embaixador inglês. “Não é normal esta preocupação da diplomacia inglesa. Quem é este casal? Quem são os amigos?”, questiona o autor. Também “não é normal que comuns cidadãos a quem uma filha acabou de desaparecer nomeiem assessores de imprensa”, perante o mediatismo que o caso começava a ganhar.
Estranha descontracção de Gerry
Ao longo das 214 páginas, Gonçalo Amaral lembra questões que ficaram sem resposta - os berços dos gémeos estavam sem lençóis na noite do desaparecimento de Maddie, foram apagados registos de chamadas de telemóvel entre Kate e Gerry, os registos médicos de Maddie pedidos a Inglaterra que não foram atendidos, etc. - e algumas diligências que não avançaram para que o casal não fosse exposto perante o julgamento da opinião pública - como a reconstituição dos factos da noite de 3 de Maio e o pedido de escutas telefónicas.
Em Maio, "sentimos que Kate estaria na disposição de, sem se comprometer, indicar o local onde o corpo da sua filha estava" e, "segundo a própria viria a afirmar, tais dados tinham-lhe sido fornecidos por pessoas com poderes psíquicos ou para normais". Referiu então um colector de esgotos que desemboca na praia da Luz e os penhascos a nascente daquela praia. Cães ingleses detectaram, em Julho, odor a cadáver e vestígios de sangue no apartamento e no veículo alugado pelo casal.
Mencionando os diversos avistamentos da menina em inglesa que foram chegando de diferentes países e se revelaram infundados, Gonçalo Amaral conta um episódio, datado de Junho de 2007.
Um homem na Holanda exigiu um resgate de dois milhões de euros, com um adiantamento de 500 mil euros. Os contactos entre Gerry e o homem decorreram através de email numa sala da PJ de Portimão. Quando se aguardava a indicação das condições e local da entrega do dinheiro "a tensão na sala era grande".
"Ao contrário, a postura descontraída" de Gerry "constratava com a ansiedade dos polícias e deixava intrigados todos os investigadores". O pai de Maddie "chupava descontraidamente um chupa-chupa enquanto lia banalidades em sites da Internet e discutia rugby e futebol com um dos polícias ingleses", revela o autor. Mais tarde o indivíduo foi detido e a pista revelou-se falsa.
“Madeleine McCann morreu no apartamento 5ª do Ocean Club, na Vila da Luz, a 3 de Maio de 2007”, escreve Gonçalo Amaral, segundo os resultados obtidos pela equipa de investigação do caso até Outubro de 2007.
“Ocorreu uma simulação de rapto” e os pais, Kate e Gerry, “são suspeitos de envolvimento na ocultação do cadáver da sua filha”, acrescenta o ex-inspector da PJ.
O autor salienta que “a morte poderá ter sobrevindo em resultado de um trágico acidente” e que foram detectados “indícios de negligência na guarda e segurança dos filhos”.
Um facto é que “há um cadáver não localizado, constatação validada pelos cães ingleses (…) e corroborado pelos resultados laboratoriais preliminares”.
Nas suas conclusões, Gonçalo Amaral salienta ainda que “a tese de rapto é defendida desde a primeira hora pelos pais de Maddie” e que no seio do grupo de amigos que passava férias no Ocean Club apenas Kate e Gerry disseram que a janela do quarto da menina estava aberta.
“O conjunto de depoimentos e testemunhos evidenciam um elevado número de imprecisões, incongruências e contradições (..), em particular, o depoimento-chave para a tese do rapto, o de Jane Tanner (…) tornando-se ambíguo e desqualificando-se”. Foi esta cidadã inglesa que disse ter visto um homem com uma menina ao colo na noite de 3 de Maio de 2007.
"Contribuir para a descoberta da verdade material"
“Este livro surge da necessidade que senti de repor o meu bom nome que foi enxovalhado na praça pública sem que a instituição a que pertencia há 26 anos, a Polícia Judiciária, tenha permitido que me defendesse ou que o fizesse institucionalmente. (…) Mais tarde fui afastado da investigação”, começa por explicar Gonçalo Amaral.
“Este livro tem ainda um propósito maior. O de contribuir para a descoberta da verdade material e a realização da justiça”, refere, salientando que o conteúdo “em nenhuma circunstância põe em causa o trabalho” dos colegas da PJ “nem compromete a investigação em curso”.
Na nota inicial, Gonçalo Amaral indica que “o leitor encontrará dados que desconhece, interpretações dos factos e, naturalmente, interrogações pertinentes”, frisando que uma investigação criminal “não se deve preocupar com o politicamente correcto”.
“Casal tratado com pinças”
A capa do livro, publicado pela editora Guerra e Paz, assemelha-se a uma capa processual, com a inscrição “Confidencial” a vermelho e a simulação de uma foto tipo-passe de Maddie presa com um clip.
As primeiras linhas não se situam a 3 de Maio de 2007, quando teve início o “caso Maddie”, mas em Fevereiro de 2008, data da publicação de uma entrevista na qual o então director nacional da PJ considera que houve precipitação na constituição do casal inglês como arguido. O autor confessa que teve o “pressentimento” de que a declaração pretendia “preparar a opinião pública para o inevitável, ou seja, o fim da investigação e o arquivamento do inquérito”.
Gonçalo Amaral diz que houve “campanhas de desinformação que visaram descredibilizar a investigação criminal”. “Para mim a investigação estava morta desde 2 de Outubro de 2007”, quando foi afastado da PJ e se fizeram “diligências para cumprir calendário, um pouco para inglês ver.”
O autor questiona a relação entre o casal McCann e a polícia inglesa, após a constituição como arguidos. “Causou-nos sempre estranheza a forma como o casal era tratado (…) e a informação policial a que eventualmente acederam”.
“O erro foi termos tratado o casal ‘com pinças’”, lê-se, pelo facto de Kate e Gerry só terem sido constituídos arguidos quatro meses após o início da investigação.
Logo na manhã de 4 de Maio, antes de receberem informação pedida à polícia inglesa sobre os McCann, os investigadores receberam a visita do embaixador inglês. “Não é normal esta preocupação da diplomacia inglesa. Quem é este casal? Quem são os amigos?”, questiona o autor. Também “não é normal que comuns cidadãos a quem uma filha acabou de desaparecer nomeiem assessores de imprensa”, perante o mediatismo que o caso começava a ganhar.
Estranha descontracção de Gerry
Ao longo das 214 páginas, Gonçalo Amaral lembra questões que ficaram sem resposta - os berços dos gémeos estavam sem lençóis na noite do desaparecimento de Maddie, foram apagados registos de chamadas de telemóvel entre Kate e Gerry, os registos médicos de Maddie pedidos a Inglaterra que não foram atendidos, etc. - e algumas diligências que não avançaram para que o casal não fosse exposto perante o julgamento da opinião pública - como a reconstituição dos factos da noite de 3 de Maio e o pedido de escutas telefónicas.
Em Maio, "sentimos que Kate estaria na disposição de, sem se comprometer, indicar o local onde o corpo da sua filha estava" e, "segundo a própria viria a afirmar, tais dados tinham-lhe sido fornecidos por pessoas com poderes psíquicos ou para normais". Referiu então um colector de esgotos que desemboca na praia da Luz e os penhascos a nascente daquela praia. Cães ingleses detectaram, em Julho, odor a cadáver e vestígios de sangue no apartamento e no veículo alugado pelo casal.
Mencionando os diversos avistamentos da menina em inglesa que foram chegando de diferentes países e se revelaram infundados, Gonçalo Amaral conta um episódio, datado de Junho de 2007.
Um homem na Holanda exigiu um resgate de dois milhões de euros, com um adiantamento de 500 mil euros. Os contactos entre Gerry e o homem decorreram através de email numa sala da PJ de Portimão. Quando se aguardava a indicação das condições e local da entrega do dinheiro "a tensão na sala era grande".
"Ao contrário, a postura descontraída" de Gerry "constratava com a ansiedade dos polícias e deixava intrigados todos os investigadores". O pai de Maddie "chupava descontraidamente um chupa-chupa enquanto lia banalidades em sites da Internet e discutia rugby e futebol com um dos polícias ingleses", revela o autor. Mais tarde o indivíduo foi detido e a pista revelou-se falsa.
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