Hoje vi uma pedra. Era uma pedra diferente porque todas as pedras são
diferentes, mas aquela era ainda mais diferente, pelo menos, para mim que sou
diferente dos indiferentes e nem uma pedra me deixa indiferente... Aquela não
me deixou. Era a minha pedra ou era apenas a pedra que gostaria que fosse
minha. Acho que nunca tive um pedra idêntica à que vi hoje, que me fez parar e
olhar para ela. Não lhe pude tocar devido à altura da minha cadeira de rodas.
Se tentasse baixar-me para ter a ousadia de lhe pegar, de lhe tocar, de sentir
sua textura quase inexistente, correria o risco de bater com a cabeça nela e
podia partir... a pedra! Apaixonei-me por uma pedra, porque não? É natural. Uma
pedra faz parte da natureza, logo, posso-me apaixonar por uma pedra, como por
uma flor, uma árvore, um animal ou, simplesmente, por uma mulher qualquer.
Aquela pedra, naquele estranho espaço de tempo, não era um objeto banal, era a
pedra preciosa que nunca tive e não consegui forma de a trazer comigo. Estava
deleitada num recanto dum jardim fofo e verde, molhada por uma chuva miúda como
ela própria, essa pedra tão doce, cor de mármore, veias artísticas, linhas
curvas tão sensuais e minúsculas cavidades tão seditoras. As palavras são
escassas para descrever tamanha beldade da pedra que nunca mais vi, porque fui
cobarde e retirei-me da sua presença, afastamento marcado pelas rodas da minha
cadeira elétrica. Não a esqueço, só penso naquela que transformou meu
coração... em pedra.
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